Gravura

Litografia

02/10/1890

MRBP.GRA.3210

Altura: 321,00 mm

Largura: 226,00 mm

Folha dos "Pontos nos ii" de 2 de Outubro de 1890. Na frente, sob o título "O compadre chegadinho", caricatura de Martens Ferrão. É representado qual patriarca Moisés, transportando as tábuas da Lei, enquanto se desloca velozmente sobre nuvens, com sapatos ornados das asas de Mercúrio; sobre a cabeça, um sobrenatural resplendor iluminado. Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro faz humor com a súbita deslocação do diplomata a Portugal (vindo de Roma, onde era embaixador junto da Santa Sé), aquando da sua gorada indigitação pelo rei D. Carlos para a chefia do governo, como última e ansiada solução régia, após o pedido de demissão do governo António Serpa em 18 de Setembro. No entanto, a nomeação de Martens Ferrão acabaria por não se concretizar (contra a vontade de D. Carlos), tendo o diplomata acabado por declinar o convite perante a pressão política exercida pelas máquinas partidárias, especialmente do partido progressista. Para título da página o autor recorreu ao mote da canção popular do "compadre chegadinho", sendo que, no caso presente, "chegadinho" assume igualmente o sentido de "acabado de chegar". No verso, conclusão de crónica humorística ilustrada sobre o mesmo tema (iniciada na página anterior, aqui não visível, sob o título "O Par de Botas"). Em cima, Martens Ferrão recebe do rei D. Carlos o "par de botas" da então candente questão diplomática inglesa pós-ultimato. Em baixo, o mesmo Martens, com ar preocupado, pensa em como poderá descalçar a gigantesca bota do tratado luso-britânico (o contestado convénio de 20 de Agosto de 1890, que levaria à demissão do governo António Serpa). Ao seu lado, enormes pontos de interrogação exprimem as suas dúvidas. Ao fundo, José Luciano de Castro, Barjona de Freitas e António Serpa, de braços dados, riem gostosamente das perplexidades do putativo estadista, embora fossem eles "os três sapateiros que fizeram a bota".