Gravura

Litografia

21/01/1885

MRBP.GRA.2664

Largura: 470,00 mm

Altura: 325,00 mm

Folha dupla (4 pags.) de "O António Maria", 21/1/1885. Na frente, pág. da esquerda, caricatura do rei D. Luís, de costas, exibindo o seu enorme traseiro e agarrado a um violoncelo, enquanto as mãos tentaculares do marquês de Valada parecem preparar-se para o apalpar. Na pág. da direita, sob o título "Los dos toreros", o governador-civil de Lisboa, Peito de Carvalho, e o ministro do Reino, Barjona de Freitas, vestidos de toreadores, ladeiam vitoriosos um touro embolado e prostrado no chão, representando a imprensa. A situação refere-se ao clima de restrições à liberdade de imprensa que então se verificava e, muito particularmente, à questão de um bando precatório que os jornalistas pretenderam lançar em favor das vítimas de um terramoto na Andaluzia, colecta que foi proibida por Peito de Carvalho sob instruções de Barjona, com receio de infiltrações republicanas na iniciativa. Perante os protestos da imprensa, Bordalo tentou mobilizar uma greve de jornalistas, os quais, no entanto, acabariam por fazer abortar o projecto por receios ou indecisões. Tal episódio estaria na origem próxima do termo da publicação da 1ª série do "António Maria". No verso, pág. da esquerda, sob o título "O que são as quarentenas", história pícara, aos quadradinhos (continuada na pag. seguinte do periódico), envolvendo um tal Gaspar (músico da Guarda Municipal), o qual se recusa a ser submetido à quarentena, embora chegado de Espanha. A recusa do inédito e desconhecido personagem acaba por subir nas hierarquias administrativas até chegar ao ministro do Reino, Barjona de Freitas, que se vê forçado a solicitar pareceres sucessivos a Fontes Pereira de Melo, Hintze Ribeiro, António Augusto de Aguiar (a história prolonga-se na página seguinte (ver MRBP.GRA.2663 verso). Ainda na mesma página, várias caricaturas de Peito de Carvalho; e, em caixa de rodapé, Fontes Pereira de Melo, presidente do Conselho, é impiedosamente caricaturado de inúmeras formas (de xé-xé de entrudo a velha de capote, passando por palhaço e atleta de circo, etc.). Trata-se do último número do "António Maria" (1ª série) publicado, tendo Bordalo suspendido a publicação por motivos de coerência ética ainda relacionados com a questão da putativa greve, recusada pelos "touros embolados" da imprensa.